Os amigos tropeiros são, via de regra, apaixonados pelos muares. Não conheço aquele que não suspire fundo ao ver passar uma bela mula, bem arreada, tralhada com peiteira de argolas de alpaca e marchando impecavelmente. O efeito é hipnótico, todos param para admirar. É como se Gisele Bündchen desfilasse diante de nossos olhos muladeiros.
Confesso que sofro desse mau. Adoro cavalos, mas pouso os olhos com carinho especial nos muares. Sei lá o porque disso, talvez em razão de ser um apaixonado pelo Brasil e por nosso povo e, convenhamos, a mula é mais Brasil, mestiça como a gente. Se for marchadeira melhor, herdeira da autêntica ginga brasileira.
Conto tudo isso para que possam entender o sentimento que tive nesta semana de Carnaval ao ver um burrico com apenas dois dias de idade. Foi paixão à primeira vista. Fiquei encantado com aquele pequenino, frágil por sua tenra idade e, ao mesmo tempo um serelepe, doido por uma corrida. E como é lindo o Carnaval, esse ficou sendo seu nome. Afinal, nasceu pampa, colorido como nossa festa maior.
Essa nova genética e pelagem vem chegando com tudo e promete dar muito o que falar em nosso meio. Criar burro pampa não é para qualquer um, tive notícias de gente que investiu muito tempo e dinheiro em busca disso e, no dizer tropeiro, “deu com os burros n’água”.
Carnaval nasceu de um casamento entre tradição e modernidade. Embrião implantado em outra barriga, gerado por Jara do Jaó, Mangalarga Pampa de Preto, de criação de Jamir Alves de Oliveira (Haras Jaó), e pelo jumento Gongo da Aliança, de criação de Eduardo Araújo, cuja história da família, tradicional criadora muares de Joaíma-MG, se mistura à história da própria raça Pega.
O que mais me anima é que, assim como Carnaval, gerados com os mesmos cuidados, existem, no Haras de Eduardo Araújo, mais dezoito embriões implantados em éguas receptoras e à espera de nascer. Boa notícia para nós, muladeiros apaixonados. Espero poder conhece-los em breve.
